Usando cartões de figuras para estimular fala em casa

Usando cartões de figuras

Você já ouviu falar em cartões de figuras como ferramenta para ajudar seu filho a falar mais e melhor? Eles parecem simples — apenas imagens com nomes —, mas escondem um potencial enorme para estimular o vocabulário, a escuta e a construção de frases nas crianças. E o melhor: podem ser feitos em casa com materiais acessíveis.

Na fase dos 1 aos 5 anos, a linguagem explode. É o momento em que as palavras ganham significado, os gestos viram frases e o mundo começa a ser descrito pela criança. Os cartões de figuras entram como um canal visual e interativo para apoiar essa transição — sem pressão, com muito mais diversão.

Se você busca formas práticas e eficazes de incentivar a fala do seu filho no ambiente de casa, prepare-se para uma jornada cheia de descobertas. Vamos explorar como esses cartões funcionam, como criar os seus e como transformar cada imagem em uma conversa rica em aprendizado.

O que são cartões de figuras e por que funcionam

Cartões de figuras são recursos visuais compostos por uma imagem (geralmente de um objeto, animal, ação ou pessoa) acompanhada ou não do nome correspondente. Eles podem ser feitos de papel, cartolina, papelão ou até impressos em materiais mais resistentes como EVA ou plástico. Apesar da simplicidade, são uma ferramenta poderosa e versátil no desenvolvimento da linguagem infantil.

O princípio é básico: a criança vê, associa e, com o tempo, verbaliza. Mas por trás dessa mecânica está um processo cognitivo complexo. Quando a criança observa uma imagem e ouve o adulto dizer “bola”, ela ativa múltiplas regiões cerebrais — visão, audição, memória, associação semântica, e, por fim, linguagem expressiva.

 Por que o cérebro infantil responde tão bem aos cartões de figuras?

Entre 1 e 5 anos, o cérebro da criança está em pleno desenvolvimento sináptico. Isso significa que ele é altamente receptivo a estímulos organizados, repetitivos e multimodais (visuais, sonoros, táteis). Os cartões de figuras entregam justamente isso:

  • Estímulo visual claro: a imagem chama a atenção e facilita a retenção
  • Estímulo auditivo associado: ao ouvir a palavra, a criança liga som e imagem
  • Possibilidade de manipulação: ao tocar e virar o cartão, a experiência se torna ativa
  • Repetição com variação: o mesmo cartão pode ser usado de diferentes formas e contextos

Tudo isso contribui para fortalecer a consciência fonológica, ampliar o vocabulário e incentivar a formação de frases.

 Cartões de figuras funcionam com qualquer criança?

Sim, com adaptações. Crianças com desenvolvimento típico se beneficiam enormemente do uso desses cartões — principalmente entre 18 meses e 3 anos, quando o vocabulário explode. Mas crianças com atraso de fala, dificuldades sensoriais ou distúrbios de linguagem também respondem muito bem ao recurso.

O segredo está na forma como o adulto apresenta os cartões: com atenção, clareza, paciência e interação verdadeira. Não é só mostrar e esperar que a criança repita. É criar uma conversa, uma brincadeira, uma troca afetiva. Esse é o diferencial que transforma uma imagem em aprendizado.

Cartões prontos ou caseiros: qual escolher?

Ambos funcionam. Existem kits prontos de alta qualidade pedagógica e visual. Mas fazer seus próprios cartões em casa tem um valor emocional importante: você escolhe os temas que fazem sentido para seu filho, como fotos da família, objetos reais da casa, lugares que ele conhece. Isso aumenta o engajamento e o interesse.

E, claro, também é uma forma de envolver a criança no processo — o que amplia ainda mais os benefícios.

Benefícios dos cartões de figuras no desenvolvimento da fala

Se você já tentou conversar com seu filho e teve a sensação de que ele “entende tudo, mas ainda fala pouco”, saiba que isso é comum — e natural. O desenvolvimento da fala não é automático: ele exige maturação, experiências e estímulos constantes. E os cartões de figuras entram exatamente aí, como uma ponte entre o que a criança pensa, vê e, aos poucos, aprende a expressar.

Abaixo, estão os principais benefícios dessa ferramenta simples e poderosa:

1. Ampliação do vocabulário com contexto visual

Cada imagem é uma oportunidade de nomear algo que a criança talvez ainda não conheça verbalmente. Ao ver o cartão com um “trator”, por exemplo, ela associa a imagem ao som da palavra — e a repetição fortalece essa conexão neural.

Impacto direto:
A criança começa a formar um banco interno de palavras com significados claros. Isso evita a memorização sem sentido e favorece a linguagem funcional.

 2. Estímulo à fala espontânea

Ao apresentar os cartões em forma de perguntas abertas (“O que é isso?”, “Você já viu um desses?”), o adulto convida a criança a tentar responder, completar frases, apontar ou até imitar sons. Mesmo que ela não fale com clareza, ela está se engajando na comunicação.

Impacto direto:
A criança desenvolve coragem para se expressar e começa a tentar formar palavras por iniciativa própria.

3. Melhora da escuta e da compreensão auditiva

Além de falar, a criança precisa saber ouvir, interpretar e responder. Os cartões promovem essa escuta ativa quando são usados com pausas, entonação variada e reforço visual.

 Impacto direto:
A criança aprende a prestar atenção ao som das palavras, a diferenciar sons semelhantes e a entender comandos simples (“Mostre o cachorro”, “Cadê o avião?”).

4. Construção de frases e histórias

Ao agrupar cartões por temas (ex: animais + ações + lugares), é possível ajudar a criança a formar frases do tipo: “O gato dorme na cama”. Essa organização visual facilita a montagem de sentenças e até pequenas histórias.

 Impacto direto:
A criança começa a estruturar pensamentos em sequência lógica, elemento fundamental para o desenvolvimento da linguagem narrativa.

 5. Fortalecimento do vínculo afetivo

O uso dos cartões não precisa ser mecânico ou didático. Pode (e deve) ser feito em clima de brincadeira, com humor, gestos, carinho e contato visual.

 Impacto direto:
A criança se sente segura, valorizada e compreendida — e isso é o melhor fertilizante para o florescimento da fala.

Como criar seus próprios cartões de figuras em casa

Você não precisa gastar muito, nem ser designer gráfico, para criar cartões de figuras eficientes e encantadores. Com papel, tesoura, cola e um pouco de criatividade, é possível montar um acervo personalizado que seu filho vai adorar — e, mais importante ainda, vai usar para aprender a se expressar.

A seguir, você confere um passo a passo prático e sugestões para montar seus próprios cartões.

 Materiais básicos que você pode usar

  • Papel cartão, cartolina ou papel sulfite firme
  • Imagens recortadas de revistas, encartes, embalagens ou impressas da internet
  • Caneta preta de ponta grossa ou marcador (para escrever o nome da imagem)
  • Plástico adesivo ou fita transparente larga (para plastificar e durar mais)
  • Envelope, caixa ou pastinha (para organizar os cartões por temas)

Você também pode usar fotos reais da família, dos objetos da casa ou até do próprio ambiente da criança (o quarto, o brinquedo favorito, o cachorro). Isso gera um vínculo ainda maior.

Dicas visuais para deixar os cartões mais eficazes

  1. Use imagens grandes e centralizadas
    Evite fundos poluídos ou excesso de elementos. Quanto mais simples e nítida a imagem, melhor será a associação.
  2. Mostre apenas um item por cartão
    Um cartão com uma maçã. Outro com um cachorro. Outro com uma colher. Isso ajuda a criança a identificar, nomear e categorizar.
  3. Evite desenhos estilizados ou personagens irreais
    Prefira fotos reais ou ilustrações bem próximas da realidade. Isso aumenta a conexão com o mundo da criança.
  4. Escreva a palavra abaixo da imagem
    Mesmo que seu filho ainda não leia, ver a palavra junto da imagem estimula o reconhecimento visual e a consciência das letras.

 Sugestões de temas para montar seu kit inicial

Organizar os cartões por categoria facilita a introdução de novas palavras. Aqui estão algumas ideias:

  • Animais: cachorro, gato, vaca, passarinho, peixe
  • Alimentos: maçã, banana, arroz, leite, pão
  • Roupas: camisa, sapato, calça, boné
  • Objetos da casa: colher, escova, cama, sofá
  • Pessoas e emoções: mamãe, papai, bebê, feliz, bravo
  • Ações: correr, dormir, comer, brincar, abraçar

Você pode usar essas categorias para brincar de associação, memória, construção de frases ou “achar o cartão certo”.

Melhores formas de usar os cartões com crianças de 1 a 5 anos

Agora que você já sabe o que são os cartões, como funcionam e até como criar os seus, surge a pergunta: “Como usar da forma certa para estimular a fala do meu filho?”
A boa notícia é que não existe apenas um jeito certo — o segredo está em adaptar à idade da criança, seu interesse e nível de linguagem.

A seguir, apresento estratégias específicas para cada faixa etária, sempre com foco na leveza e no vínculo.

 1 a 2 anos – Fase da nomeação e imitação

Nesta fase, a criança está começando a entender e nomear o mundo. Os cartões devem ser simples e apresentados com calma.

 Como usar:

  • Escolha 3 a 5 cartões por vez (ex: animais ou objetos familiares)
  • Mostre um por um e diga a palavra com entonação: “Olha, é o cachorro!”
  • Use gestos e expressões faciais para reforçar a associação
  • Estimule a imitação de sons: “Au au”, “Muuu”, “Vruuum”

 Dica: Mantenha sessões curtas, de 2 a 5 minutos, em momentos tranquilos como após o banho ou antes de dormir.

 2 a 3 anos – Fase do aumento de vocabulário e pequenas frases

Agora, a criança começa a formar frases curtas. Os cartões viram oportunidade para expandir e conectar palavras.

 Como usar:

  • Peça para ela nomear: “O que é isso?”
  • Estimule ações: “Cadê o cachorro? Ache e me dê.”
  • Agrupe cartões e monte frases juntos: “O gato dorme”, “O carro anda”
  • Brinque de “achar o par” com cartões repetidos

 Dica: Faça vozes engraçadas e use cenários reais (ex: perto do armário de comida, com os cartões de alimentos).

 3 a 5 anos – Fase da linguagem mais elaborada e narrativa

A criança já conta pequenas histórias e começa a usar conectivos (“e”, “depois”, “porque”).

 Como usar:

  • Proponha montar histórias com 3 ou 4 cartões: “A menina foi ao mercado, comprou a maçã e encontrou o cachorro.”
  • Trabalhe categorias: “Quais cartões são frutas?”, “Quais são roupas?”
  • Jogue “o que está faltando?” (mostre 3 cartões, esconda 1, e pergunte)
  • Estimule emoções e opiniões: “Você gosta da maçã?”, “Esse cachorro é bravo ou feliz?”

 Dica: Grave a criança contando suas histórias e ouçam juntos. Isso incentiva ainda mais a expressão oral e a autoestima.

 Importante para todas as idades: repita com variedade

Os cartões podem (e devem) ser usados várias vezes. A repetição fortalece a memória linguística e traz segurança para a criança. Varie apenas os contextos: no chão, na mesa, na hora do banho, durante o lanche.

Erros comuns ao usar cartões de figuras em casa (e como evitar)

Apesar de serem ferramentas simples, os cartões de figuras exigem cuidado na forma como são usados. O objetivo é estimular a fala de maneira leve e afetiva — e não transformar o momento em uma aula, uma prova ou uma cobrança.

Muitos pais, na tentativa de “fazer certo”, acabam cometendo pequenos deslizes que atrapalham o processo. Abaixo, listo os erros mais frequentes e como você pode evitá-los com naturalidade.

 1. Pressionar a criança a repetir palavras

Esse é o erro mais comum. A criança está observando, absorvendo e talvez ainda não esteja pronta para verbalizar — mas o adulto insiste: “Fala ‘banana’! Vamos, fala!”

 Como evitar:
Use frases afirmativas em vez de imperativas. Em vez de “Fala maçã!”, diga: “Essa é a maçã. É vermelha e doce!”
Com o tempo e a repetição, ela falará naturalmente.

 2. Exibir muitos cartões ao mesmo tempo

Apresentar 10, 20 ou mais cartões de uma vez pode causar sobrecarga. A criança perde o foco, fica confusa e desinteressada.

 Como evitar:
Trabalhe com 3 a 5 cartões por vez, agrupados por tema. Depois que a criança dominar aquele conjunto, introduza outros. Menos é mais.

 3. Usar o material de forma rígida ou mecânica

Transformar os cartões em uma “atividade obrigatória”, com tom sério ou didático, acaba afastando a criança.

 Como evitar:
Mantenha o clima de brincadeira, surpresa e conversa. Faça vozes, gestos, perguntas engraçadas. Sente-se no chão com seu filho, no mesmo nível visual.

 4. Corrigir a criança com rigidez ou frustração

Se a criança disser “bá” em vez de “bola”, não critique nem diga “está errado!”. Isso pode gerar insegurança ou bloqueio.

 Como evitar:
Modele a linguagem com naturalidade: “Isso! A bola. A bola é azul.” Assim, ela ouve a forma correta sem pressão.

 5. Usar cartões apenas como estímulo verbal

Os cartões são mais do que imagens para nomear. Eles podem contar histórias, ensinar ações, explorar emoções e muito mais.

 Como evitar:
Use os cartões para criar contextos reais e afetivos: brinque de “o que está faltando”, monte frases, relacione com objetos da casa ou com passeios.

 Lembre-se: O cartão é apenas uma ferramenta. A conexão emocional, a escuta ativa e o exemplo do adulto são os verdadeiros motores da linguagem.

Conclusão: imagens que despertam palavras

Os cartões de figuras não são apenas pedaços de papel com imagens — são portas abertas para o diálogo, para a escuta e para o vínculo. Quando usados com respeito, curiosidade e intenção, eles transformam o tempo que você passa com seu filho em um momento de conexão profunda e crescimento real da linguagem.

Você não precisa ser especialista, nem seguir um cronograma rígido. Basta estar presente, olhar nos olhos, nomear com carinho e esperar o tempo da criança. A fala vem. Vem devagar, às vezes aos tropeços, mas vem — alimentada pela sua atenção e pelo mundo rico que você oferece.

Seja com cartões feitos em casa, com imagens recortadas de revistas ou kits prontos, o que mais importa é o que acontece entre você e seu filho no momento da troca. Porque é nesse espaço de afeto e descoberta que a linguagem floresce.

FAQ – Perguntas Frequentes sobre cartões de figuras e fala infantil

1. A partir de que idade posso usar cartões de figuras com meu filho?

A partir dos 6 meses já é possível apresentar imagens simples, especialmente com cores e objetos do cotidiano. Entre 1 e 2 anos, o uso verbal começa a ser mais eficaz.

2. Quantas vezes por dia devo usar os cartões?

O ideal é usar de forma natural, em momentos curtos de 3 a 10 minutos, 1 ou 2 vezes ao dia. O mais importante é a regularidade e a qualidade da interação.

3. E se meu filho não quiser brincar com os cartões?

Tudo bem. Não force. Deixe visível, ofereça com leveza e volte a tentar em outro momento. O interesse pode surgir de forma espontânea.

4. Cartões com palavras ajudam mesmo se a criança ainda não sabe ler?

Sim! Mesmo sem ler, a criança começa a reconhecer visualmente as letras, o que ajuda na consciência fonológica e prepara o caminho para a alfabetização.

5. Posso usar os cartões para outras áreas além da fala?

Com certeza! Eles também ajudam no aprendizado de cores, formas, categorias, emoções, rotina, linguagem de sinais e até segunda língua.

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